sábado, 3 de abril de 2010

O infeliz caso do sorvete derretido.

  No Brasil não tem um outono característico dos filmes, com as árvores desnudas e suas folhas forrando o chão, mas aquela praça era a exceção.
  Sentei em um banco de pedra de frente para a rua enquanto tomava meu sorvete.
  Uma pequena multidão saía de dentro do prédio do fórum e vinham caminhando para perto de mim, as crianças encabeçavam o grupo.
  Bosta. - Pensei comigo. - Odeio comer na frente de criança, especialmente doce. Então coloquei meu sorvete no lado do banco para que eles não o vissem.
  Notei uns policiais de rostos inexpressivo no meio deles e um homem algemado, a multidão conversava sibilante com ele, os mais novos imagino que alheios da situação pulavam e gritavam em volta do grupo.
  Sendo escoltado pelo braço o algemado foi levado até uma viatura próxima. Abriram a parte de trás do carro, o homem entrou sorrindo, não um sorriso sacana, gracejo sádico ou um gracejo masoquista nem aqueles sorrisos de leviandades para o que estava lhe acontecendo (coisa que só vi em filme).
  Ele sorria para manter o filho sorrindo.Era um sorriso fraco e forçado, mas era necessário para o infantil sorriso continuar vivo e sonhando.
  Com um ronco e um punhado de folhas secas empurradas pelo escapamento a viatura partiu.
- Tchau pai! - Gritou a criança.
  À medida que a viatura virava a esquina as pessoas iam se dispersando.
  Quando pensativo voltei ao meu sorvete vi que, para o meu desagrado ele havia derretido inteiro, agora era sopa de creme, concluí comigo mesmo.
- Ema, ema, ema, cada um com seus "probrema".