domingo, 6 de setembro de 2009

O pé fantasma!



Estava cansado, exaurida minhas últimas energias em um evento de anime e mangá, onde o resquício da minha paciência se foi em uma deplorável cena que eu vi um cara de uns 35 anos fantasiado de pirata (é One Piece pra quem conhece, mas não posso ser hermético nos detalhes) correndo atrás de um outro cara fantasiado fazendo ceninhas no meio da rua, então resolvi voltar pra casa.
Pegamos o ônibus das 8 e pouco de volta pra São Pedro, o tempo estava mudando, os deuses devem ter ficado revoltados com estes novos rituais criados pelo homem, definitivamente, um pirata peludo correndo pela rua deve trazer azar e tempestades! Estava começando a garoar quando um vestígio de esperança materializada em uma estrutura grande, de metal e que sua passagem custa quase 7 reais chegou para nos ajudar.
Entramos no ônibus que não tinha mais do que 6 passageiros e fomos preguiçosamente nos sentar no meio dele, estava com muita preguiça pra ir lá no fundo. Deixei-me afundar no estofado fedido do ônibus e descansar.
Lá fora a chuva caía mais forte e o silêncio dentro do ônibus era mortal, assim logo me distraí com meus pensamentos. Olhei a senhora que estava sentada a minha direita com seu rosto refletido na janela, olhei as pessoas que descansavam a frente, os amigos no banco do lado e atrás do ônibus não havia ninguém, somente o escuro, o cheiro de cachorro dos estofados e um pé sem dono que saía do ultimo banco.
Meu cérebro algumas vezes tem problemas de processamentos, neste caso o fato da improbabilidade de um pé aparecer aleatoriamente demorou um pouco para chegar no meu cérebro, foi o tempo de voltar pra frente, me esparramar na poltrona do ônibus e me assustar:
- Meu Deus! - Pensei comigo, eu vi um pé!
Olhei novamente para o fundo do ônibus, não havia nada, voltei para frente assustado.
- Santo Deus! O que eu faço, eu vi um pé fantasma. - Pensei comigo. Bom, mas que fantasma cretino que se transfigura na forma de um pé para tentar assustar alguém, poderia tentar tantas outras coisas que desconexas ao corpo teriam mais impacto, logo um pé! Fantasma estúpido!
Voltei a olhar para trás do ônibus e nada do pé, um amigo me questionou:
- João, o que você tá fazendo?
- Eu vi um pé fantasma.
- Afff, que besteira, todo mundo sabe que fantasma não têm pés!
- Mas eu vi um pé branquinho lá atrás! - Teimei.
- Viu nada, vou provar! O amigo subiu no banco e por alguns instantes ficou olhando no fundo do ônibus, suas expressões foram mudando, primeiro de pirraça para depois espanto, ele deve ter visto o pé pensei comigo e ergui no banco para ver o terrível fantasma do ônibus.
Eu vi o pé também, como também vi as pernas, como vi outro par de pernas encoxadas contra aquelas, vi uma costa e dois rostos colados contra o vidro, porém, antes de eu terminar minha análise o amigo solta um grito como uma corneta de guerra nórdica:
- SEXO NA VÃ!!!!!!!
As pessoas no ônibus começaram a se entre olhar, meus amigos em pouco tempo estavam explodindo em risos e comentários, mas mesmo assim o casal perseverava e não parava ou simplesmente ficaram o restante da viagem de cabeça baixa para não serem vistos. Quando descemos na rodoviária ficamos esperando o casal descer no ônibus, afinal, eu queria saber que rosto pertencia aquele pé fantasmagórico. Esperamos cinco minutos, primeiro desceu rapidamente um rapaz e depois desceu uma garota morena, talvez com seus 26 anos acompanhada de seu pé, agora embrulhado em um all star branco, selado, aprisionado em um lugar a onde ele não possa fazer o mal...pelo menos até a próxima viagem de ônibus.
Foto de Mônica Mosman, conheçam mais do trabalho desta minha amiga: www.flickr.com/photos/monmosman

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